quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Frida Kahlo (2)


Frida é uma das mais significativas pintoras da América, sua produção artística reflete de modo intenso suas vivências "como se através de seus desenhos e quadros realizasse um auto-retrato íntimo de sua vida" (Outeiral e Moura, 2002). Frida se casou com o pintor Diego Rivera em 1929 e no ano seguinte foram residir nos Estados Unidos. Em julho de 1932 Frida sofreu um aborto e ficou internada no Hospital Henry Ford em Detroit. Este fato traumático em sua vida  deu origem (e título) a uma de suas mais impactantes pinturas: 'O Hospital Henry Ford', também intitulada 'A cama voadora'.

Vemos uma mulher em lágrimas, deitada em uma cama de hospital cujo lençol está ensanguentado. Seu ventre está aumentado, fatores claramente indicando o aborto. Ela segura na mão esquerda um cordão vermelho interligado aos outros seis elementos da pintura. Nos livros que exploram suas obras constam algumas interpretações a respeito da simbologia de cada figura; algumas são facilmente associadas a gravidez e órgãos de reprodução femininos, vemos  por exemplo um feto, abaixo há um osso da pélvis. Na cultura mexicana o caracol é descrito como símbolo de vitalidade, sexualidade, união sexual e também de gravidez. E a orquídea Frida recebeu de Diego no hospital. ( Andrea Kettenmann)

Frida veio a sofrer outros abortos ao longo da vida. Constam dados relatando que devido às fraturas ocorridas em sua pélvis, após ter sofrido um acidente de carro, os médicos já havia dito a Frida que ela não poderia engravidar. (ver post anterior sobre a mesma artista)
http://maianarodrigues.blogspot.com/2010/11/frida-kahlo.html
Essa frustração por não ter podido gerar filhos é expressa por ela em algumas declarações verbais e em diversas outras pinturas, como El Aborto de 1932.

Sobre sua vida Frida declarou: " Eu era tomada por surrealista. Isto não é correto. Eu nunca pintei sonhos. O que eu representei era minha realidade."

Autores psicanalíticos, como Winnicott, que se dedicaram a estudar a criatividade, compreendem que na experiência humana temos impulsos, necessidades que nos fazem criar. Especialmente quando enfrentamos traumas, este impulso de criação artística vem em uma tentativa de auto-preservação da vida. Por meio de suas obras um artista pode tentar alcançar algum domínio sobre seu trauma, na tentativa de minimizar o sentimento de vulnerabilidade e transformando seu sofrimento psíquico. (Bollas, 1992)

Podemos perceber o quanto isso é verdadeiro nas obras de Frida Kahlo, nas quais a artista parece procurar dar um sentido a todas as vivências que lhe marcaram, tanto no corpo quanto na vida. As doenças, cirurgias, o acidente de carro e mais tarde as decepções em sua vida afetiva e no casamento. Carlos Fuentes sintetiza muito bem isto definindo que as duas fontes da arte de Frida Kahlo são " a dor e o corpo ".


1 comentários:

Mai disse...

Muito bom! adorei o post!

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